Era para ser apenas mais uma noite de trabalho. Um evento luxuoso, uma mansão imponente, rostos importantes e um mar de aparências. Clara Vidal, organizadora de apoio contratada por uma empresa terceirizada, estava acostumada a eventos grandes, mas jamais a um cenário como aquele: a mansão Santoro, um palácio de mármore, jardins de filme e gente que parecia ter saído de uma revista. Ela só precisava fazer seu trabalho e ir embora.

Mas o destino resolveu brincar naquela noite.

Em um descuido perto da piscina, Clara escorregou e caiu na água gelada. A cena foi silenciosa, constrangedora e, para muitos ali, apenas mais um motivo de fofoca. Mas não para Leonardo Santoro, o poderoso anfitrião da noite. Ao invés de rir ou ignorar, ele se ajoelhou, estendeu a mão e a ajudou a sair. Enxugou seus cabelos com uma toalha de linho. A elite assistia chocada. Aquilo não fazia parte do roteiro.

Leonardo, herdeiro de um império e conhecido pela frieza nos negócios, parecia… diferente. E a partir daquele momento, tudo mudou.

Nos dias que se seguiram, Clara foi convidada a retornar à mansão. A desculpa era um jantar intimista com parceiros de Leonardo. Mas as entrelinhas diziam mais. Olhares trocados. Silêncios carregados. Perguntas sem resposta.

Leonardo queria algo real. E viu isso em Clara.

Mas Clara não podia se dar ao luxo de se perder em um romance. Seu irmão, Júlio, de 17 anos, lutava contra uma doença degenerativa rara. Cada centavo que ela ganhava era para o tratamento dele. E ela já havia sofrido demais para abrir espaço a algo incerto.

Mesmo assim, algo entre eles crescia.

Até que o passado bateu à porta. Natália Montiel, ex-noiva de Leonardo, reapareceu. Linda, venenosa e decidida a reconquistar o que julgava seu. Fez questão de deixar claro que Clara não era bem-vinda.

O clima ficou tenso. Boatos começaram a circular. Funcionários cochichavam. E o golpe final veio quando Clara descobriu que Leonardo havia contratado um detetive para investigá-la. Aquilo foi a quebra definitiva.

Ela foi embora. Com o coração em pedaços, mas a cabeça erguida. Não importava o quanto sentisse por ele. Não podia continuar onde não havia confiança.

Do outro lado, Leonardo se deu conta tarde demais. O relatório do detetive revelou uma mulher íntegra, batalhadora, que fazia de tudo para manter o irmão vivo. Uma mulher que jamais havia pedido nada, nem mesmo quando precisava desesperadamente de ajuda.

E ele a havia afastado.

Agora, diante da chuva fina que caía como lamento, Clara tomava sua decisão: não voltaria à mansão. O que quer que tenha existido entre ela e Leonardo estava enterrado sob as mágoas da desconfiança.

Mas… histórias como essa não terminam assim tão facilmente.

Horas antes, Leonardo estivera trancado em seu escritório revendo cada palavra, cada gesto. Sabia que tinha errado. Sabia que talvez fosse tarde. Mas havia algo que ainda não podia negar: ele não queria perder Clara.

Do lado de fora do pequeno apartamento onde ela morava com Júlio, um carro preto estacionava discretamente.

O que ele faria agora?

O que ela estava disposta a perdoar?

O amor entre dois mundos diferentes pode florescer, sim. Mas só quando há coragem suficiente para enfrentar o passado, as diferenças e, principalmente, os próprios medos.

E agora, restava saber: será que ainda havia tempo?