Carlos passou um ano inteiro servindo ao exército, contando os dias para voltar para casa e reencontrar sua mãe. Com um buquê de margaridas brancas nas mãos e o coração cheio de saudades, ele retornava ao seu vilarejo imaginando o sorriso acolhedor da mulher que sempre esteve ao seu lado. Mas o que encontrou foi o silêncio de uma casa vazia… e uma verdade que ele jamais poderia imaginar.

Ao chegar à casa onde cresceu, tudo parecia estranho. A cerca antes branca estava quebrada, as flores do jardim haviam desaparecido, e quem abriu a porta não foi sua mãe, mas Felipe, seu irmão mais velho. Frio e distante, Felipe não demonstrou alegria ao revê-lo. Carlos logo perguntou pela mãe, mas recebeu uma resposta dura: “Ela se foi. Disse que não queria ser um peso para ninguém.”

Sem entender, Carlos insistiu. Queria saber para onde ela tinha ido, por que ninguém o avisou. Mas seu irmão apenas repetia que ela quis ir embora. Nem mesmo as coisas da mãe estavam ali — tudo havia sido doado. Carlos sentia que havia algo errado. A frieza de Felipe e o silêncio da casa deixavam claro que havia mais nessa história.

Determinando a encontrar respostas, ele percorreu as ruas da vila, perguntando de casa em casa. Ninguém tinha notícias. Até que chegou ao mercado, lugar que sua mãe tanto amava. Ali, sentado num banco, triste e desolado, foi abordado por uma mulher que, ao ouvir sua história, disse algo que mudou tudo: “Acho que vi sua mãe… ela estava dormindo perto do mercado, pedindo comida.”

O coração de Carlos quase parou. A mulher lhe deu a direção e ele correu para o local, temendo o pior. Em um beco escuro, entre restos de lixo e sacolas rasgadas, ele viu uma figura encurvada vasculhando o chão. Era ela. Sua mãe. Enfraquecida, suja, magra… irreconhecível.

Com a voz trêmula, ele a chamou: “Mamãe… mamita.” A mulher levantou a cabeça lentamente, confusa, e murmurou: “Alejandro, é você?” Confundiu Carlos com o pai falecido. O tempo, a fome e o sofrimento haviam apagado partes da sua memória. Carlos se ajoelhou, pegou suas mãos e disse: “Sou eu, mamãe. O Carlos.”

Ela o olhou de novo, com mais atenção, e então seus olhos se encheram de lágrimas. “Sabia que você voltaria, filho”, murmurou ela. O abraço que se seguiu foi de cortar o coração. Ali, em meio à sujeira, mãe e filho se reencontraram — um reencontro que nunca deveria ter sido necessário.

Carlos a levou a um pequeno hotel no centro do povoado, alugou um quarto com duas camas e uma janela simples. Sua mãe, exausta, deitou-se em silêncio. Logo depois, com a voz fraca, pediu: “Filhinho, compra um pancito e um platanito? Estou com muita fome.”

Ele correu até a loja mais próxima. Quando voltou, entregou o pão e a banana com mãos trêmulas. Ela comeu com pressa, como quem não via comida há dias. Carlos observava em silêncio, o peito apertado — como sua mãe, que sempre o alimentou, havia sido deixada naquela condição?

Naquela noite, ele decidiu que jamais a deixaria sozinha de novo. Mas uma pergunta o consumia: por que Felipe a havia abandonado? Por que sua família não cuidou dela? O que realmente aconteceu?

Enquanto acariciava os cabelos de sua mãe, Carlos jurou que descobriria toda a verdade — mas agora, o mais importante era tê-la de volta em seus braços.