Numa manhã de céu limpo e clima festivo, a AgroTitan reunia os maiores nomes do agronegócio regional para o lançamento da mais nova colheitadeira da marca, a imponente Titan X. Balões, faixas coloridas e painéis digitais davam o tom grandioso do evento. Trajes elegantes, discursos ensaiados e taças de suco gourmet passavam de mão em mão entre empresários de terno e gravata.

Foi nesse cenário que um homem simples, quase invisível, atravessou o pátio da fábrica. Vestia camisa xadrez desbotada, calça jeans surrada, botas com barro seco e um chapéu de palha baixo sobre o rosto. Seu nome: Elias Batista de Souza.

Poucos perceberam sua chegada. Para quem notou, ele parecia deslocado — talvez um visitante perdido ou um curioso qualquer. Mas ao parar diante da colossal Titan X, seus olhos brilhando de admiração genuína, chamou atenção de um vendedor jovem, bem vestido e visivelmente arrogante.

“Veio de charrete, vô?”, debochou o rapaz, em alto e bom som. Outros convidados riram. Elias, calmo, respondeu apenas: “Queria ver de perto. Me disseram que ela aguenta bem em terreno encharcado.”

A conversa ganhou um tom cada vez mais cruel. O gerente Marcelo foi chamado. Com desprezo velado, sugeriu que Elias procurasse máquinas mais “simples”, pois “aquele modelo é para produtor grande, não para aposentado curioso”.

Elias, sem alterar o tom, devolveu: “Quando tiverem tempo para me atender de verdade, eu volto.” E se afastou, sentando-se em um banco de madeira à sombra, como quem ainda esperava algo — talvez humanidade.

A funcionária Júlia, que havia ouvido toda a cena, não se conteve. Incomodada, foi até ele e se desculpou pela humilhação sofrida. Durante a conversa, ela perguntou seu nome completo e, ao ouvir a resposta, sentiu o chão se mover.

Elias Batista de Souza.

Aquele nome soava familiar. Júlia puxou o celular e rapidamente encontrou uma reportagem recente: “Produtor do interior investe milhões em tecnologia sustentável e revoluciona a agricultura familiar.” A imagem na matéria era inconfundível. O mesmo homem diante dela — só que agora, em destaque como um dos maiores investidores do agronegócio sustentável do estado, dono de mais de mil hectares e responsável por mais de 100 empregos diretos.

Júlia voltou ao centro do evento determinada. Interrompeu o círculo de risos ao redor de Marcelo e, sem hesitar, mostrou a matéria. “Esse é o homem que vocês humilharam”, disse, virando a tela do celular.

O silêncio caiu como uma pedra no pavilhão. Marcelo tentou contornar, mas era tarde demais. Nesse momento, Álvaro — contador e braço direito de Elias — entrou com um envelope em mãos. “O senhor Elias pediu que eu entregasse isso, já que duvidaram da capacidade dele de comprar uma Titan X.”

Dentro estavam comprovantes bancários, balanços e uma carta de intenção de compra assinada. Álvaro, firme, declarou: “Ele pode comprar não apenas uma, mas dez Titan X à vista.”

As piadas desapareceram. O jovem vendedor empalideceu. Marcelo tentou pedir desculpas, bajular, reverter a situação. Elias, com calma e sem elevar a voz, respondeu:

“Compreendo que está tentando salvar a própria imagem. Mas o senhor já perdeu o que mais importa.”

Fez uma pausa e completou:

“Dinheiro compra muita coisa. Mas não compra respeito. E o respeito ou você tem — ou aprende na dor.”

Naquele instante, a festa da AgroTitan virou palco de uma lição histórica. Não sobre agricultura. Mas sobre humanidade.